História parte 7
Sentia que devia ser prática nas questões amorosas. Por um lado queria amar profundamente, por outro recusava render-se ao engano do comportamento estereotipado adoptado no teatro da relações em que todos pareciam desempenhar maus personagens.
Estava a preparar o bar, quando inusitadamente entra a Sofia, bronzeada e a deixar o ar com o seu perfume fresco de verão.
- Olá, boa noite para todos! – disse.
- Olá – disse bárbara secamente – sempre achara a Sofia uma menina da mamã, com um pai rico que lhe dava tudo. Sempre a achara fútil e chata, das vezes que tentara fazer conversa, evitava sempre grandes aproximações porque os seus mundos simplesmente, pensava, não se tocavam.
Passou toda a noite a olhar, quase que involuntariamente para a porta, onde estava o António e a Sofia que se derretia em sorrisos.
- Porque estou a olhar tanto? - pensou zangada.
- 2 Cervejas – pede um cliente habitual.
Ficou parada, deu umas voltas sem sentido, parecia perdida naquele pequeno espaço.
- Duas cervejas, por favor! – acena novamente o cliente.
- Já ouvi, já ouvi – respondeu efusivamente.
- Estou a ver que não estás nos teus dias, mas isso já faz parte, ás vezes perguntamo-nos, como vai estar ela, esta noite? – disse a sorrir.
Olhou enjoada e serviu as cervejas voltando a cara.
- Vamos? - pergunta António ao final da noite, já depois de tudo arrumado.
- Não, fiquei de ir ter com o Sérgio, lá acima ao bairro. Vou conhecer o bar dele e depois vamos a uma inauguração em cascais.
- Ah, não sabia. Posso ir contigo?
Bárbara não sabia o que responder, a pergunta deixou-a aliviada e acabou por concordar.
O novo espaço em Cascais era diferente dos de Lisboa, tinha espaço ao ar livre sobre a praia, o que era óptimo para o verão e naquela noite de abertura, toda as caras conhecidas da noite estavam lá.
- Estás a gostar – perguntou o Sérgio.
- Sim, parece-me bem – respondeu – vou buscar mais uma bebida, querem? – Perguntou-lhes.
O Sérgio estava notoriamente contrariado com a presença do António e este por sua vez, sentia-se a mais, mas de algum modo a sua intenção era mesmo essa. Guardar algo que julgava ter conquistado e que lhe pertencia.
A situação estava tensa entre os três e Bárbara já só desejava ir embora, deixar o Sérgio ali mesmo, que era nitidamente um conquistador. Havia algo nele, que não sabia definir bem, mas que não lhe agradava.
De regresso a casa e já a sós, António pediu-lhe para ficar com ele. Sentiu vontade de dizer que sim, mas não era certo.
- Recordo-te que foi só um acontecimento, não pretendo passar por cima de ninguém, nem ser um caso teu – disse.
- Tens razão, não posso pedir-te isso.
Não se deixaram partir, ficaram juntos nessa manhã, como em quase todas as outras que se seguiram, vivendo escondidos do que ela considerava um erro irresistível.