http://i8.photobucket.com/albums/a26/monicaleal/sap.jpg anascente: História parte 3

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

História parte 3


Ser adolescente não é fácil, por um lado há uma grande alteração corporal e hormonal, a sexualidade passa a ser uma parte fundamental desse período, por outro lado inicia-se um esquema de percepção mais complexo que liga algumas das peças da nossa existência em puzzle e em consequência surgem as grandes questões existenciais, o que estamos a fazer aqui neste mundo, qual o caminho a seguir?
Para todas as estas novas questões que surgem em força por esta altura, a escola não responde. Na escola pretende-se que os alunos aprendam os conteúdos de um programa curricular apertado e que deve ser seguido à risca. Não há espaço para a partilha de experiências, alunos e professores estão em lados opostos que raramente se tocam, o que resulta numa profunda alienação em relação á escola, pois não acompanha as necessidades reais de um período fundamental do desenvolvimento.
Numa época de crescimento e definição pessoal, quebrar os laços com os vínculos do passado é fundamental, mas é preciso que se faça essa transição em segurança, com o amor e o suporte de pais e educadores.

Estava neste ponto de partida e ao olhar em redor parecia-lhe que o mundo se encontrava de pernas para o ar. Ninguém tinha respostas, nada estava organizado ou previsto, que desilusão. O que fazer, em que verdades acreditar ou seguir?
Na escola, sentia pena da professora de Inglês, era a única que se preocupava em tornar a aula num momento lúdico, mas ninguém lhe prestava atenção e por mais de uma vez, ficou com lágrimas nos olhos. Saiu para o intervalo e foi para o seu local preferido, atrás do pavilhão. Sentou-se e a chupar uma azeda e a sentir o calor do sol. Parecia que era abraçada naquele momento pelo sol e que isso aquecia a sua existência. O pensamento em suspenso, até ao próximo toque de entrada, até ao próximo professor, até á próxima indiferença.

Chegou a casa ao fim da tarde, já sabia como ia ser o resto da noite foi, evadida por uma solidão profunda.
Depois do jantar, como habitualmente, a sua mãe recolheu-se para descansar do peso de carregar uma existência sem amor, sempre tentando manter um ténue equilíbrio entre a realidade e a dor.
Sentou-se na sala vazia, olhou para a televisão e chorou. Não querendo ceder, agarrou na sua máquina de escrever Triunph, já quase centenária, e bateu furiosamente nas teclas tentando exorcizar a solidão, a falta de alguém com quem partilhar aquele espaço, aquele momento.