http://i8.photobucket.com/albums/a26/monicaleal/sap.jpg anascente: História Parte 8

sexta-feira, março 03, 2006

História Parte 8

A noite começava animada, a música e as pessoas já começam a encher o espaço de paredes cinzentas e desenhavam-se cortinas de fumo cada vez mais densas sob o foco das luzes.
Um grupo de pessoas riam numa conversa animada num dos sofás, do outro lado um casal sussurrava baixinho cruzando olhares tímidos com os clientes que iam passando e na mesa do fundo o cliente mais triste do bar beberricava o seu Famous Grouse. Já lá estava como era seu costume desde o início da noite, cabisbaixo com o olhar perdido no contraste do líquido ocre do whisky e pelo brilho das luzes reflectidas no gelo.
-Só de olhar dá dó - pensou enquanto bebia mais um pouco do seu whisky cola. Estava inquieta e afogava os pensamentos sobre os olhares que algumas pessoas lhe deitavam e que a atormentavam, assim podia continuar pela noite dentro com uma falsa segurança. Olhou para o maço de tabaco já vazio, e tirou um novo do cofre vermelho, pegou no isqueiro e acendeu um cigarro que logo de seguida pousou ao ser chamada por um cliente ao fundo do bar.

- Hoje todos pedem cocktails – queixou-se ao entrar na cozinha para ir buscar o shaker que se encontrava lavado em cima de uma bancada. O jugoslavo que lavava pacientemente os copos fez um sorriso trocista e acompanhou a sua saída da cozinha de volta ao bar. Misturou a bebidas e logo voltou a entrar na cozinha agitando freneticamente o shaker e resmungando entre dentes, voltou a sair para o bar e ao olhar para a porta da rua, num gesto impensado agita o shaker com uma só mão, a tampa abre-se e o doce orgasmo cai-lhe em cima deixando-a toda suja e peganhenta – Isto hoje não me está a correr nada bem, diz voltando para a cozinha e dirigindo-se para o lava-loiça onde estava o copeiro – Calma, eu ajudo-te. -Isto não pode continuar – desabafou sem notar que pensava alto.

Por volta das duas da manhã começaram a entrar mais pessoas vindas do Bairro-Alto, o Carlos e o Ricardo subiam as pequenas escadas que davam ao bar. - Boa noite – diz Carlos com o seu habitual jeito feminino e altivo. - Boa noite, então como estava o Bairro?- pergunta Barbara. - Boas - diz Ricardo com um fresco aceno de mão. - O mesmo de sempre, estivemos no Nova, nas Primas e ainda demos um pulo aos Pastorinhos, responde Carlos antecipando-se a Ricardo e passado a mão pelos seus cabelos encaracolados. Carlos fazia-lhe sempre lembrar o vocalista dos Pet Shop Boys, no seu jeito artista e até mesmo pela arrogância e maneira importante como falava. O Ricardo era diferente, mais discreto e sereno nas suas intervenções, alto, moreno sempre com as suas botas Cendra e ganga rasgada, barbicha no queijo. Não percebia como se relacionava com uma pessoa tão diferente como o Carlos. Ás vezes perguntava-se se seriam amantes.

António que observava da porta, dirige-se para o bar e com um sorriso aberto cumprimenta com um aceno de cabeça os dois e pede a Barbara mais um whisky. - Já lá vou levar-to! – e virando-se para Ricardo pergunta – Hoje ainda estão a pensar ir ao Kremlin? - Talvez, depende – responde-lhe Ricardo com um sorriso malicioso.

Do bar, Barbara controlava a porta e esperava que a Sofia se ausentasse para descer com o Whisky. Assim que a viu afastar-se, dirigiu-se ara a porta, subiu o degrau da pequena antecâmara e fechou atrás de si a porta de isolamento. - Isto acaba já aqui! – gritou-lhe. - Que se passa, que tens? – pergunta António, enquanto tentava segura-la pelos ombros. Esquivando-se do seu toque, olhou furiosa para ele e confessou que não ia aguentar, nem mais um minuto aquela situação.
Quando António se preparava para argumentar entra a Sofia, bem disposta, com um sorriso rasgado o que ainda deixou Bárbara mais furiosa, - Que idiota - pensou e saiu sem explicações.

Nessa noite, Sofia acompanhou o António e toda a equipe do bar ao Kremlin, o que não era muito habitual, uma vez que tinha horas para chegar a casa.
Barbara sentia-se vazia e resolveu pedir mais uma bebida, aproximou-se do bar, cumprimentou o barman e pede o habitual. Depois de servida, voltou-se para a pista e aproximou-se das colunas de pedra. O som parecia encher todo o seu vazio, por isso fechou os olhos e deixou-se balançar. Sentiu um toque e ao abrir os olhos, apenas vê os lábios de Ricardo que se colaram aos seus e sente-se ser envolvida pelos seus braços firmes. Quando a larga, Barbara não sabe o que pensar.
- Porque fizeste isso? Pergunta-lhe ao ouvido?
- Não imaginas há quanto tempo pretendia fazer isto, não consegui conter-me ao olhar os teus lábios vermelhos.
Barbara ficou confusa, será que em algum momento o incitara a isto, sempre o achara atraente, mas nunca lhe ocorrera tal. Possivelmente ele já bebera demais. Olhou de relance e viu que António ao lado de Sofia olhava tenso para ambos, hesitante afastou de si Ricardo com um sorriso tímido, mas intimamente triunfante.
Sentia-se vingada!

1 Comments:

Blogger ProTrunks said...

Neste texto a única coisa que não gosto são os erros ortográficos, mas isso também se deve ao facto de eu ser muito picuínhas relativamente a esse assunto.
Quanto ao resto estou a gostar bastante do texto. Gosto do pormenor de "Bárbara" ser de facto bárbara. É um cliché que me agrada, às vezes o óbvio dá um certo prazer de utilizar exactamente porque toda a gente pensa que ninguém vai usar isto porque é tão óbvio que qualquer um utilizaria e eventualmente cai no esquecimento.
Algo que me parece acompanhar a estória é o álcool e/ou o bar. Demonstra bem a confusão na cabeça dos personagens, dá a imagem de mentes confusas e que de facto se verifica. Veremos o que acontece neste quadrado amoroso!

10:57 da manhã, março 04, 2006  

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